Me sinto feliz, mas também assustada. Foram 4 anos desafiadores, em que literalmente saí da caixa, de qualquer caixa que algum dia havia pertencido. A Caixa do comodismo, do medo, da religiosidade, dos costumes, da segurança de ter toda minha família ao alcance dos meus olhos, de ter amigos sempre perto. Saí de tudo o que era comum para mim.
Nunca havia saído do país, não falava outro idioma, não sabia fazer cambio sem usar um app, nunca tinha feito uma fogueira para esquentar comida, nem sequer havia acampado. E de repente eu estava lá, ao lado do meu marido, vivendo tudo isso e muito mais que um milhão de palavras não seriam suficientes para expressar.
Aprendi a dormir ouvindo o barulho do caminhão que estava estacionado no mesmo posto de combustível, aprendi que não tem nada demais ficar na fila com os caminhoneiros esperando a minha vez de tomar banho, aprendi que banho quente é um luxo.
Aprendi a dormir com muito frio, aprendi dormir com muito calor, aprendi a dormir com pessoas desconhecidas num mesmo quarto de hostel, aprendi a apreciar a hospitalidade de quem nos recebia em sua confortável casa. Também aprendi que não dormir pelos mesmos motivos acima seria uma rotina.
Nunca imaginei que ficaria um dia sem banho, nem dois, nem três nem CINCO, não imaginei que faria o n°1 e n°2 na “natureza” e que isso seria, muitas vezes, bem melhor do que usar banheiro sujo de shoppings ou lojas (e até algumas de casas de família).
Pit Toilet – (Latrina)
Quando eu iria imaginar que estaria falando espanhol intermediário e portunhol fluente e ainda arriscando mais que o verbo to be em inglês (eu até recebi um diploma por estudar numa escola para adultos na Califórnia).
E falando em California, eu me imaginava lá sim, muitas vezes em meus sonhos me imaginava pela orla de Santa Monica e de repente quando vejo estou lá, me sentindo parte de tudo aquilo, vivenciando os pores do Sol mais lindos e conhecendo os Outlets mais desejados. Eu estava lá andando pela calçada da fama e participando de espetáculos em Hollywood. Eu fui eu vivi eu conheci.
Nosso objetivo era chegar ao Alaska, mas confesso que tinha medo de morrer de frio ou ser engolida por urso, mas para meu espanto, depois que pisei no Alaska, não queria mais sair de lá, que lugar maravilhoso, até acelera o coração quando lembro. Quem imaginaria que a menina friorenta iria enfrentar as frias madrugadas no extremo norte para ver a dança das luzes, a Aurora Boreal? E iria se apaixonar.
Meus olhos estão cheio de alegria, minha mente cheia de informações, imagens, lembranças, meu coração cheio de emoção.
Definitivamente eu não sou a mesma pessoa. Aprendi tanta coisa sobre o amor. Que por mais forte e intenso ele não pode mudar o destino de quem amamos, aprendi a sobreviver a partida do verdadeiro e mais puro símbolo do amor, Minha Mãe!
Ela não era apenas quem eu mais amava, mas quem mais me amava no mundo inteiro e mesmo assim ela partiu e não pude nem me despedir.
Sobrevivi, estou aqui.
Aprendi que aquele famoso texto do Pedro Bial faz todo sentido agora “Seja legal com seus irmãos. Eles são a melhor ponte com o seu passado e possivelmente quem vai sempre mesmo te apoiar no futuro”. De fato é uma grande verdade!
Aprendi que ter alguém ao lado para segurar sua mão e te abraçar tão forte ao ponto que os corações chegam a bater no mesmo compasso é uma forma sublime e intencional de amar. E que o amor e a cumplicidade são o combustível para um lar de paz.
Aprendi a viver 24/7 ao lado do meu marido e ainda assim continuar apaixonada por ele. Aprendemos a cuidar um do outro com uma empatia e tão grande (Nos demos conta disso em um dia de muito frio, quando entramos numa loja buscando um agasalho. Ele foi para um lado da loja e eu para o outro, voltamos cada um com um casaco – nas minhas mão tinha um que servia para ele, busquei o número que ele usava de propósito – e nas mãos dele um que servia em mim, era meu número e ele fez de propósito) nesse momento parecia que pozinhos mágicos de gliter caiam sobre nossas cabeças.
Sim, sou romântica, mas aprendi também a ser muito prática e realista.
Aprendi a viver sem um centavo no bolso por dias e dias e notar que eu realmente não precisava disso para viver momentos inesquecíveis. Aprendi a trabalhar duro para ter algumas moedas e entrar num restaurante e escolher o menu olhando primeiro o prato e depois seu preço, mas aprendi também a comprar 2 Big Mac por $ 5.00 (sem refri e sem batata) e que esse seria nosso almoço feliz.
Aprendi que a gente não faz amigos, reconhece-os e nessa jornada reconheci tantos pelas estradas da América e que hoje estão aqui “do lado esquerdo do peito” e desejo profundamente que qualquer dia a gente volte a se encontrar.
E se eu continuar a contar aqui tudo o que vi, vivi e aprendi, certamente se transformaria em um livro sem fim, para esse momento “Só quero que saibam que dei tudo de mim, fiz o meu melhor, trouxe a alegria a alguém, deixei este mundo um pouco melhor, apenas porque eu estive aqui … e foi mais do que eu pensava que fosse” (letra de música da Byoncê)
E quero te lembrar que você também está aqui, então viva, aproveite o máximo e acredite que seus sonhos podem se realizar.
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